O jantar prolongou-se pelo tempo e um ar ameno expirado pelas janelas, que demonstrava um verão em antecipação, atraiu-nos à varanda com as suas cadeiras, que mais se aproximavam da forma confortável das espreguiçadeiras. O café deu fio para a meada das conversas, umas mais redundantes, outras mais íntimas e íamo-nos deixando absorver pela noite, como ela fazia com todas as porções do mundo. O café já se tinha ido à muito e as palavras começaram a escassear, até nos contentarmos não só pelo embalo acolchoado das cadeiras, mas também pela altura daquele último andar. O breu da noite destinou os olhares a lançarem-se para o panorama noturno, dividido entre as estrelas a brilhar no céu, etéreas e distantes, e as luzes do quarteirão, mundanas e próximas, que se alteravam conforme as vivências quotidianas. A quietude foi-se adensando e imergimos, por uma fração de segundo, sob a forma de um transe melancólico, até uma nova respiração nos puxar de novo à superfície da realidade e perguntarmos se alguém, como nós, também estaria fixo nas estrelas, ou nos acontecimentos terrenos. A interrogação havia-nos direcionado para a fachada dos prédios: talvez não soubéssemos muito mais acerca das presenças que observávamos, do que das estrelas tão longe... Parecia que a vida nos lembrava como, no que toca a narrativas, o hábito nos acomoda ao lugar de protagonistas, enquanto, em segundo plano, outras existências se movimentam desfocadas. O semblante translúcido dos prédios transcendia-se numa montra do desenrolar complexo dessa mesma vida, ali arrumada simples e categoricamente. Deseja ler o restante do texto? Aproveite o nosso cantinho prèmium rabiscado.
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Não pode haver lugar à culpa no suicídio quando demos tudo por tudo por aquele ser que desistiu de viver. Seja por um filho, por um pai, por um primo, por um tio, por um amigo ou até um conhecido. Não existe culpa! A vontade de desistir torna-se o único objectivo para quem perdeu o seu amor próprio, para quem deixou de acreditar que a vida existe para nos colocar à prova e com isso crescer e amadurecer. Estes seres estão fartos de sofrer, fartos de viver numa selva de humanos onde eles se sentem as presas acorrentadas, isentos de carinho, amor, compreensão, vivendo no medo de ser mal entendidos. Vivendo incompreendidos e ridicularizados. Eu sei que nem sempre esta realidade é a de todas as familias. Eu sei que muitas lutam lado a lado por um milagre que não chega. Por uma luz que não tem força para brilhar. Esgotam as forças e no final o pior acontece e coloca tudo em causa. O amor, o esforço, a familia, a dedicação, a esperança a alegria, a dádiva ao próximo, a própria fé e religião. Tudo mas tudo, é colocado à prova. Eu sei que existem muitas famílias que dariam tudo o que possuem para conseguir salvar aqueles que partiram envoltos da escuridão que carregavam na alma. Eu sei que existem familias que ficam com um peso na alma, que se sentem fracassadas. Que todos os dias se questionam onde falharam. Eu sei.... Simplesmente sei, porque a minha família também passou e existem momentos que ainda passa por isso. A culpa aparece! Os que ficam, entregam-se a todos os se's que ficam e com eles adoecem em torno do que poderiam ter feito, sido, ou dito a esse ser que desistiu de viver. Eu mesma tive a minha culpa bem no início. Hoje não guardo mais nenhuma. Talvez porque o meu filho tenha tido o cuidado de nos proteger mesmo no leito da sua morte, quando deixou escrito que: "Os meus pais tentaram ajudar-me! Mas eu não quis a ajuda de ninguém. Eu já me sentia morto por dentro. Das 24 horas do dia, queria que 22h fossem a dormir e duas a viver, porque é o mesmo que estar morto e quando durmo eu não sinto nada." Deseja ler o restante do texto? Aproveite o nosso cantinho prèmium rabiscado.
Constança e Adelaide são duas irmãs. Vivem na aldeia, próxima ao palácio. Com uma vida pacata, mas estão constantemente a querer viver uma vida de luxo. Para as duas irmãs, a permanência na aldeia é insuportável.
Um baile ia acontecer num Sábado. Todas as moças da aldeia estavam convidadas. Constança, que voltava a casa com a sua égua, após comprar pão, trouxe um dos cartazes consigo. Mostrou a Adelaide. – Temos que comprar vestidos. – Disse a irmã. – Não precisamos. A dona Beatriz vai arranjar-nos uns vestidos que temos. Ficou, então, combinado. A dona Beatriz tinha cinco dias para fazer a remodelação às vestimentas. No dia anterior ao baile, a dona Beatriz trouxe os vestidos. Constança iria levar o roxo e a Adelaide o rosa. Durante a noite, as duas brindaram de felicidade. Mas durou pouco tempo... Deseja ler o restante do conto? Aproveite o nosso cantinho prémium rabiscado. Dormi pouco e mal e trato mal os homens da brigada naquela manhã cinzenta e pesada de Inverno.
Sei que estou a ser injusto, estamos a explorar todas as pistas possíveis, mas o caso está num impasse. O que é que o Inspector Leandro faria nesta situação? Sobressalto-me, pois há anos que não penso no meu mentor, um homem inteligente, calmo, que exigia o melhor de nós. E eu... eu não estou a dar o meu melhor, nem a ajudar os meus homens a encontrar o equilíbrio. Por isso, tal como o Leandro fazia quando isto acontecia, volto ao princípio. Quem é realmente a vítima? Porque é que estava naquela zona e àquela hora? Leio novamente os depoimentos das testemunhas que afirmam que não sabem quem é, nunca a viram na zona, têm a certeza de que não entrou no bar. A família descreve-a como uma mulher discreta, pouco dada à vida nocturna, por isso não compreendem porque é que apareceu morta num beco perto de um bar. Abro a porta do gabinete, grito pelo meu sargento, quero esclarecer alguns detalhes. O Meireles não tem mais que quarenta anos, veste-se sempre de preto, talvez porque é ruivo e tem olhos verdes. É pouco falador e fico admirado quando descubro que é motard, que adora a velocidade. Temos que voltar àquela zona, alguém a deve ter visto, alguém está a mentir, insisto, temos que encontrar uma razão para ela estar lá naquele dia, àquela hora. Oh, Inspector, já reviramos a zona, interrogamos toda a gente vezes sem conta e todos afirmam que não a conhecem, explica o Meireles pacientemente. De qualquer modo, vamos lá voltar, alguém está a mentir, repito e o Meireles suspira. Vamos lá agora? Não adianta nada, o bar ainda deve estar fechado, pergunta e eu suspiro, esqueci-me que são dez da manhã. Ok, vamos verificar novamente as contas bancárias, o telemóvel, o e-mail pessoal, decido, vamos também à empresa onde trabalhava, alguém pode ter-se lembrado de alguma coisa, entretanto. O Meireles olha-me como se eu tivesse enlouquecido, mas não se atreve a contrariar-me e dá as instruções necessárias aos outros detectives. Resolvo visitar a mãe da vítima que fica muito surpreendida quando me vê entrar na loja de flores que gere. É uma senhora ainda nova, mas leio uma grande tristeza no seu olhar, parece que desistiu de viver, está apenas presente fisicamente. Mas eu já disse tudo, Inspector, era muito raro a Juliana sair à noite, esclarece. Não poderia ter conhecido alguém e não lho ter dito? observo e a Mãe da Juliana olha-me surpreendida... Deseja ler o restante do texto? Aproveite o nosso cantinho prémium rabiscado. Fui ter a brilhante ideia de ir viver com a Raquel, a minha namorada de três anos. Até aqui tudo bem, fui fazer as trocas, a minha mãe deu-me um abraço forte e disse-me “força”. Eu inicialmente não percebi porquê, mas depois entendi tudo. Ou melhor, dias depois entendi tudo. Se eu soubesse que a Raquel era igual às outras, nunca teria ido viver com ela. É um martírio! Mas eu estava apaixonado, e continuo apaixonado porque ainda vivo com ela. Mas, se calhar, é mais pela comodidade do que pela paixão. Ou então é por causa da minha mãe. Ela precisa de saber que pela primeira vez na vida me tornei independente, mesmo que as pessoas achem que me tornei dependente de outra pessoa. Mas enfim... Cheguei à minha casa nova com a Raquel a despejar malas enormes de viagem no meio da sala. Olhei para aquilo surpreso. Ela tinha assim tanta coisa? Dois roupeiros enormes do quarto quase que não aguentavam o número de roupa... Deseja ler o restante do texto? Aproveite o nosso cantinho premium rabiscado.
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