Não me sinto zangada. Não sinto raiva. Não estou realmente irritada. Às vezes é difícil entender e gerir as nossas emoções. Não entendemos, geralmente, como nos sentimos, ou o que é suposto sentir, ou até mesmo responder a alguém como estamos.
Raramente, no cantinho pessoal, permiti-me sentir tudo. Às vezes não sinto, outras vezes sinto tudo. Talvez me sinta, às vezes, frustrada. Frustrada por sentir que estava indo bem, mas não foi o suficiente. Às vezes, precisamos de libertar a mente dos pensamentos, das perguntas dos outros. Há quem esteja à vontade de escrever coisas no diário ou bullet journal (que é o que está na moda). De qualquer forma, o ser humano gosta de partilhar as suas emoções e pensamentos, mesmo que seja consigo próprio. No meu caso, prefiro escrever em textos soltos. E foi o que fiz aqui. Gosto de ser uma anónima, poucos conhecem os meus textos. Não partilho coisas pessoais demais, talvez apenas sentimentos que eu penso que qualquer um de nós poderá um dia ter e sentir. Agora não sei o que faço, ou não sei o que estou fazendo... Deseja ler o restante do texto? Aproveite o nosso cantinho prèmium rabiscado.
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A garota magricela virou a cabeça e olhou fixamente para Cristina Matos com os seus grandes olhos vazios.
- Deixe-me em paz. Estou cansada demais para continuar falando. Cristina contemplou com ar preocupado a frágil adolescente sentada à sua frente. Joana Oliveira tinha sido ridicularizada pela milésima vez pelo grupo dos populares. Foi quase que obrigada pela diretora a vir à sala de psicologia. Cristina conseguia distinguir cada uma das costelas daquela jovem de dezassete anos por baixo de sua camisa. Tinha as faces cavadas e o cabelo castanho. Nesse momento veio à sua memória uma garota da mesma idade de Joana, Maria, uma garota que não teve tempo de ser "segurada". Cristina teve que dominar um sentimento de pânico. "Você fez tudo o que pôde pela Maria" - recordou para si mesma - "Era demasiado tarde para ela. Você não teve culpa". Mas era difícil se convencer. Cristina ainda acordava a meio da noite com pesadelos acerca de Maria, com os seus grandes olhos enterrados cheios de acusações. - Joana? - disse Cristina com gentileza - Me deixa te fazer uma pergunta. Consegue me dizer o que seria preciso para querer viver? - Eu não disse que não queria viver. - protestou a garota numa voz monótona, tão fraca que mal se ouvia - Só tenho de vigiar minha ingestão de alimentos porque estou demasiado gorda. Por isso é que eu sou ridicularizada por eles. Cristina hesitou, escolhendo a sua resposta com todo o cuidado. Com vinte e cinco anos tinha o doutoramento em psicologia, mas aquele lugar na escola era o seu primeiro emprego a tempo inteiro. Deseja ler o restante do texto? Aproveite o nosso cantinho prèmium rabiscado. Era o primeiro dia de aulas, 16 de Setembro. Ana, Inês e Mariana estavam a entrar na escola.
- Então, Inês? Escola nova, como te sentes? - perguntou Ana. - Estou na mesma. - respondeu ela sem qualquer emoção. Ana se virou para a Mariana vendo que a Inês não estava muito animada. - Então, Mari, me diz, esta escola é boa para a Inês, não é? Mariana estava desatenta. Estava olhando para outro lado. - Mariana? - chamou Ana. Ela se assustou. - Que susto. Sim. O que é? - A Inês é nova na escola. Temos que a ajudar. - A Inês se arranja. Ela irá sempre ser rebelde. Não importa onde esteja. - A Marina é que tem razão, Ana. Me deixa. Eu encontro alguma forma de conhecer a escola. - disse Inês. Elas riram. - E tu, Mari? Vai deixar de ser nerd? Vai deixar de estar sempre colada nos livros? - perguntou Ana. - Claro que não. Tu me conhece bem. - disse Mariana, séria. - E a Aninha sempre “comendo” meninos. - disse Inês. - Não há mais nada que fazer. - disse Ana, encolhendo os ombros. Inês e Mariana riram. - Vocês sabem que a gente é muito diferente. A Inês é a rebelde que nunca estuda, a Mari é a nerd e eu sou... bem... sou eu. É uma perfeita combinação de amizade. – disse Ana, rindo. Deseja ler o restante do texto? Aproveite o nosso cantinho prèmium rabiscado. Tarde de domingo. Piscina pública. Ela viu ele a olhar para ela e, ficou sem jeito. Era aquele tipo de olhar penetrante que toda menina sensata exposta a ele, fica insegura. O tipo de olhar que penetra e estuda. O tipo de olhar inquiridor e assustador. Depois da troca de olhares, ele decidiu se aproximar e conhecê-la. Conheceram-se. Porém, ela continuava insegura, sem jeito. Talvez com medo.
Desde aquela experiência, ele passou a saudá-la com mais alegria e confiança. Mesmo nos dias em que ela trancava o rosto ao andar pela rua, ele a saudava com um sorriso no rosto e gentileza na voz. Em alguns dias ela nem respondia, mas no dia seguinte ele a saudava novamente. Com um sorriso no rosto e o tom de voz afectuoso. Um tempinho depois, ele passou a esperá-la no portão da escola dela. Ela pediu e pediu e pediu mais que ele parasse de fazer aquilo, mas ele continuou. Acompanhava-a até a casa e despedia-se carinhosamente. Então ele começou a flertar. Começou a elogiar e a contar piadas que nos dias tristes a faziam rir. Mesmo quando não demonstrava um sorriso, ela ria por dentro. Ela ria quando chegava a casa. Um tempo depois disso, ela cedeu. Decidiu dar uma oportunidade a ele. Tornaram-se AMIGOS. Conversavam mais abertamente e já sabiam muitas coisas um do outro. Trocaram os telefones e os nomes nas redes sociais. Tempo passou e AMIGOS, amigos não era uma palavra com peso suficiente. O substantivo não denotava o que realmente se estava a passar. O substantivo não cobria todas as substancias que compunham aquela relação. AMIGOS já não servia para os descrever. Passaram a ser namorados. Ele era do tipo tímido, inteligente e educado já ela, ela era extrovertida, engraçadinha, trabalhadora e estudiosa. Juntos passaram a viver o melhor romance que alguma vez tiveram. Ele, conforme dizia, depois de tantas decepções amorosas, tinha encontrado a última das mulheres sensatas. Ela estava a viver o primeiro caso amoroso. Nunca tinha experienciado tal coisa antes - Ingénua no assunto. Porém, madura o suficiente para desempenhar perfeitamente o papel de namorada, mergulhou de cabeça e permitiu sentir seu coração bater mais forte ao lado dele. Se permitiu sentir o arrepiar da pele sempre que ele a tocava. Se permitiu acostumar com o cheiro dele. Ela sabia quando quebrar o gelo, quando trocar palavras doces e quando era hora de falar de coisas sérias. Quando era a hora de falar sobre a formação académica, por exemplo. Ela sempre o aconselhou a estudar duro, a viver no presente e a tirar tempo para a diversão. Segundo ela, o poder residia no equilíbrio. Pois na visão dela, o universo se tenta equilibrar a cada segundo. A terra se tenta equilibrar e equilibrar os ecossistemas a cada rotação, a cada translação. Deseja ler o restante do texto? Aproveite o nosso cantinho prèmium rabiscado. O escritor pode julgar, o personagem pode julgar, mas no fim é tudo um pensamento... Ora vamos ver... Podemos começar com o que chamamos de ponto de vida do narrador. O João entra num bar e senta-se ao balcão. – Um Whisky, por favor! – Pede ao empregado. A Marta acaba de chegar ao bar e aproxima-se do balcão na altura em que o empregado entrega a bebida ao João. Ela olha para o João atentamente. Ele parecia descontente com qualquer coisa. – Está tudo bem consigo? Ele parece assustar-se com a pergunta dela. – Sim. O que será que se passava com aquele homem que pediu um Whisky num bar? Parecia solitário, parecia triste... Parecia as duas coisas ao mesmo tempo... Bem, aqui vemos uma visão mais afastada do narrador, um questionamento. Agora vamos para outro ponto de vista: o do João. Entro no bar e sento-me ao balcão. Peço um Whisky ao empregado que parecia mais sorridente do que eu. Acabei de me separar da minha mulher. Segundos depois, sinto alguém ao meu lado. Olha-me atentamente. Não acredito que esta mulher vai me perguntar se estou bem. Não quero responder nada. Não vim ao bar para falar, vim para desanuviar, vim para beber. Este personagem é um idiota! Deus nos livre de ter um protagonista assim, mas o escritor preferiu que fosse ele o narrador. Estamos a perceber a diferença? Enfim... agora vamos para o ponto de vista da Marta, a personagem preocupada. Entro no bar e encaminho-me para o balcão. Deseja ler o restante do texto? Aproveite o nosso cantinho prèmium rabiscado.
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