Tarde de domingo. Piscina pública. Ela viu ele a olhar para ela e, ficou sem jeito. Era aquele tipo de olhar penetrante que toda menina sensata exposta a ele, fica insegura. O tipo de olhar que penetra e estuda. O tipo de olhar inquiridor e assustador. Depois da troca de olhares, ele decidiu se aproximar e conhecê-la. Conheceram-se. Porém, ela continuava insegura, sem jeito. Talvez com medo.
Desde aquela experiência, ele passou a saudá-la com mais alegria e confiança. Mesmo nos dias em que ela trancava o rosto ao andar pela rua, ele a saudava com um sorriso no rosto e gentileza na voz. Em alguns dias ela nem respondia, mas no dia seguinte ele a saudava novamente. Com um sorriso no rosto e o tom de voz afectuoso. Um tempinho depois, ele passou a esperá-la no portão da escola dela. Ela pediu e pediu e pediu mais que ele parasse de fazer aquilo, mas ele continuou. Acompanhava-a até a casa e despedia-se carinhosamente. Então ele começou a flertar. Começou a elogiar e a contar piadas que nos dias tristes a faziam rir. Mesmo quando não demonstrava um sorriso, ela ria por dentro. Ela ria quando chegava a casa. Um tempo depois disso, ela cedeu. Decidiu dar uma oportunidade a ele. Tornaram-se AMIGOS. Conversavam mais abertamente e já sabiam muitas coisas um do outro. Trocaram os telefones e os nomes nas redes sociais. Tempo passou e AMIGOS, amigos não era uma palavra com peso suficiente. O substantivo não denotava o que realmente se estava a passar. O substantivo não cobria todas as substancias que compunham aquela relação. AMIGOS já não servia para os descrever. Passaram a ser namorados. Ele era do tipo tímido, inteligente e educado já ela, ela era extrovertida, engraçadinha, trabalhadora e estudiosa. Juntos passaram a viver o melhor romance que alguma vez tiveram. Ele, conforme dizia, depois de tantas decepções amorosas, tinha encontrado a última das mulheres sensatas. Ela estava a viver o primeiro caso amoroso. Nunca tinha experienciado tal coisa antes - Ingénua no assunto. Porém, madura o suficiente para desempenhar perfeitamente o papel de namorada, mergulhou de cabeça e permitiu sentir seu coração bater mais forte ao lado dele. Se permitiu sentir o arrepiar da pele sempre que ele a tocava. Se permitiu acostumar com o cheiro dele. Ela sabia quando quebrar o gelo, quando trocar palavras doces e quando era hora de falar de coisas sérias. Quando era a hora de falar sobre a formação académica, por exemplo. Ela sempre o aconselhou a estudar duro, a viver no presente e a tirar tempo para a diversão. Segundo ela, o poder residia no equilíbrio. Pois na visão dela, o universo se tenta equilibrar a cada segundo. A terra se tenta equilibrar e equilibrar os ecossistemas a cada rotação, a cada translação. Deseja ler o restante do texto? Aproveite o nosso cantinho prèmium rabiscado.
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O escritor pode julgar, o personagem pode julgar, mas no fim é tudo um pensamento... Ora vamos ver... Podemos começar com o que chamamos de ponto de vida do narrador. O João entra num bar e senta-se ao balcão. – Um Whisky, por favor! – Pede ao empregado. A Marta acaba de chegar ao bar e aproxima-se do balcão na altura em que o empregado entrega a bebida ao João. Ela olha para o João atentamente. Ele parecia descontente com qualquer coisa. – Está tudo bem consigo? Ele parece assustar-se com a pergunta dela. – Sim. O que será que se passava com aquele homem que pediu um Whisky num bar? Parecia solitário, parecia triste... Parecia as duas coisas ao mesmo tempo... Bem, aqui vemos uma visão mais afastada do narrador, um questionamento. Agora vamos para outro ponto de vista: o do João. Entro no bar e sento-me ao balcão. Peço um Whisky ao empregado que parecia mais sorridente do que eu. Acabei de me separar da minha mulher. Segundos depois, sinto alguém ao meu lado. Olha-me atentamente. Não acredito que esta mulher vai me perguntar se estou bem. Não quero responder nada. Não vim ao bar para falar, vim para desanuviar, vim para beber. Este personagem é um idiota! Deus nos livre de ter um protagonista assim, mas o escritor preferiu que fosse ele o narrador. Estamos a perceber a diferença? Enfim... agora vamos para o ponto de vista da Marta, a personagem preocupada. Entro no bar e encaminho-me para o balcão. Deseja ler o restante do texto? Aproveite o nosso cantinho prèmium rabiscado.
O jantar prolongou-se pelo tempo e um ar ameno expirado pelas janelas, que demonstrava um verão em antecipação, atraiu-nos à varanda com as suas cadeiras, que mais se aproximavam da forma confortável das espreguiçadeiras. O café deu fio para a meada das conversas, umas mais redundantes, outras mais íntimas e íamo-nos deixando absorver pela noite, como ela fazia com todas as porções do mundo. O café já se tinha ido à muito e as palavras começaram a escassear, até nos contentarmos não só pelo embalo acolchoado das cadeiras, mas também pela altura daquele último andar. O breu da noite destinou os olhares a lançarem-se para o panorama noturno, dividido entre as estrelas a brilhar no céu, etéreas e distantes, e as luzes do quarteirão, mundanas e próximas, que se alteravam conforme as vivências quotidianas. A quietude foi-se adensando e imergimos, por uma fração de segundo, sob a forma de um transe melancólico, até uma nova respiração nos puxar de novo à superfície da realidade e perguntarmos se alguém, como nós, também estaria fixo nas estrelas, ou nos acontecimentos terrenos. A interrogação havia-nos direcionado para a fachada dos prédios: talvez não soubéssemos muito mais acerca das presenças que observávamos, do que das estrelas tão longe... Parecia que a vida nos lembrava como, no que toca a narrativas, o hábito nos acomoda ao lugar de protagonistas, enquanto, em segundo plano, outras existências se movimentam desfocadas. O semblante translúcido dos prédios transcendia-se numa montra do desenrolar complexo dessa mesma vida, ali arrumada simples e categoricamente. Deseja ler o restante do texto? Aproveite o nosso cantinho prèmium rabiscado.
Não pode haver lugar à culpa no suicídio quando demos tudo por tudo por aquele ser que desistiu de viver. Seja por um filho, por um pai, por um primo, por um tio, por um amigo ou até um conhecido. Não existe culpa! A vontade de desistir torna-se o único objectivo para quem perdeu o seu amor próprio, para quem deixou de acreditar que a vida existe para nos colocar à prova e com isso crescer e amadurecer. Estes seres estão fartos de sofrer, fartos de viver numa selva de humanos onde eles se sentem as presas acorrentadas, isentos de carinho, amor, compreensão, vivendo no medo de ser mal entendidos. Vivendo incompreendidos e ridicularizados. Eu sei que nem sempre esta realidade é a de todas as familias. Eu sei que muitas lutam lado a lado por um milagre que não chega. Por uma luz que não tem força para brilhar. Esgotam as forças e no final o pior acontece e coloca tudo em causa. O amor, o esforço, a familia, a dedicação, a esperança a alegria, a dádiva ao próximo, a própria fé e religião. Tudo mas tudo, é colocado à prova. Eu sei que existem muitas famílias que dariam tudo o que possuem para conseguir salvar aqueles que partiram envoltos da escuridão que carregavam na alma. Eu sei que existem familias que ficam com um peso na alma, que se sentem fracassadas. Que todos os dias se questionam onde falharam. Eu sei.... Simplesmente sei, porque a minha família também passou e existem momentos que ainda passa por isso. A culpa aparece! Os que ficam, entregam-se a todos os se's que ficam e com eles adoecem em torno do que poderiam ter feito, sido, ou dito a esse ser que desistiu de viver. Eu mesma tive a minha culpa bem no início. Hoje não guardo mais nenhuma. Talvez porque o meu filho tenha tido o cuidado de nos proteger mesmo no leito da sua morte, quando deixou escrito que: "Os meus pais tentaram ajudar-me! Mas eu não quis a ajuda de ninguém. Eu já me sentia morto por dentro. Das 24 horas do dia, queria que 22h fossem a dormir e duas a viver, porque é o mesmo que estar morto e quando durmo eu não sinto nada." Deseja ler o restante do texto? Aproveite o nosso cantinho prèmium rabiscado.
Senti lá no fundo o grito constante de uma alma insatisfeita, Querendo ser ouvida. Ela era pouco entendida, Uma alma triste, que coloca seus sentimentos em uma folha branca. Sentimentos não compreendidos, E jamais respondidos. Sentimento cego por opção, Não ligava a emoção. Quer ser entendido. Deseja ler o restante do poema? Aproveite o nosso cantinho prèmium rabiscado.
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